segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eu sou uma bagunça

Desde que você se foi ficou tudo tão bagunçado que às vezes me pergunto se alguém vai ser capaz de arrumar. Na verdade, existem dias que acho que não quero que arrumem. Bagunçado é solitário, mas é seguro. A bagunça é confusa, mas coerente. É aquilo: ta tudo tão de cabeça pra baixo que não da pra saber nem se você sente alguma coisa, e sentir me trouxe tantos problemas no passado que agora prefiro simplesmente não saber.

Organizar a vida, ordenar o caos que ficou quando me encontrei sozinha na sala naquele sábado à noite esperando uma mensagem que não chegaria, me pareceu, depois de algumas lágrimas derramadas (confesso), um tanto quanto trabalhoso demais para aquele momento; e aí eu fui empurrando com a barriga, fui vivendo sem direção, fui deixando a vida me levar e acabei acostumando a não definir e não rotular nada dentro de mim.


Depois que percebi que a espera não leva a lugar nenhum e que as lágrimas não são nada além de dolorosas, eu desisti de arrumar. Pra quê me preparar de novo pra o que eu mal tinha me recuperado? Qual motivo eu teria pra me recompor? Porque limpar toda a bagunça que você deixou e esperar o próximo chegar, se ele vai me por fora de ordem novamente? Isso não é nem ao menos seguro. 


A desordem pode me fazer sentir sozinha algumas vezes – eu assumo – mas nada que duas ou três doses não me façam esquecer. A bagunça pode me confundir em certas situações, mas eu conheço a minha confusão e ela... Bom, ela é diferente daquela em que você me deixou quando foi embora. Eu sei onde começa e onde termina e sei que não vai me machucar tanto quanto você fez um dia.

Depois de você eu me tornei sozinha, e sozinha não tenho que aprender a lidar com o outro, não espero ligações e nem mensagens no sábado à noite. Andar sem ter uma mão pra segurar também significa andar na velocidade e no modo que tenho vontade e eu me acostumei, desaprendi a viver de outra forma. Não sei o que quero, não quero saber e involuntariamente passei a evitar sentir.


Se recebo mensagens passo a ignorá-las, as ligações têm me assustado e agora acho que ter alguém por perto o tempo todo é mais problema do que vale a pena. Sem perceber construí uma barreira que me mantém longe de toda confusão que não seja a minha. Eu sou uma bagunça que não quer ser arrumada. Tampouco entendida.